plural

PLURAL: os textos de Rosana Zucolo e Rony Cavalli

O jornalismo e a iluminação dos
cantos escuros dos acontecimentos

Rosana Cabral Zucolo
Jornalista, professora nos cursos de Jornalismo e PP da UFN

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A visão tradicional do jornalismo envolve algumas

noções cristalizadas como as que separam informação de opinião e de interpretação. Para muitos, o papel do jornalismo é informar sobre os acontecimentos para que o público forme a sua opinião, em nome do "interesse público" e com base em uma suposta "neutralidade/imparcialidade".

Quem consome informações jornalísticas, em geral, acredita que a opinião está nos editoriais, nos artigos, nas colunas, em crônicas, ou até mesmo nas cartas dos leitores. Está de fato, mas não se limita a tais espaços. Aos leitores desavisados é preciso dizer que jornalismo é feito de escolhas. Sempre! E elas vão desde a seleção de o quê publicar (logo, do que deixar de publicar), do por quê publicar, ao modo como se fará essa publicação. É dizer que a opinião, no sentido ideológico, perpassa todo o processo jornalístico.

Opina-se ao definir as manchetes de capa e o lugar que a matéria ocupará no corpo do jornal; opina-se ao selecionar a foto a ser publicada, ao cortar uma imagem conforme o sentido que se quer destacar; opina-se ao selecionar o corpo das letras usados nos títulos; opina-se quando se enfatiza um acontecimento menor em detrimento de outro de mais impacto social, quando se reduz sem critérios claros ou justos o número de participantes de um protesto, ou quando se reedita às vésperas de uma eleição, o debate entre candidatos de modo a valorizar um e deslegitimar o outro, como já foi feito inúmeras vezes pela mídia nacional.

Nesta semana, a imprensa brasileira se repetiu ao ignorar as manifestações antifacistas do 29 de maio. Silenciar sobre um acontecimento que levou às ruas milhares de pessoas em plena pandemia diz mais sobre os interesses dos donos dos jornais com vistas ao cenário eleitoral futuro do que o seu compromisso com as questões históricas do nosso tempo.

A cobertura das marchas ficou a cargo da imprensa internacional que situou o acontecimento como um dos maiores protestos no país desde o início da pandemia, destacando as pautas que pedem o impeachment de Bolsonaro, mais agilidade na vacinação contra a Covid-19 e a garantia do aumento do valor e do tempo do auxílio emergencial durante a pandemia.

Também é a imprensa internacional a sinalizar a queda de popularidade e a fragilidade crescente do presidente em consequência da minimização da seriedade da pandemia e da negação da importância das vacinas. Até a queridinha das elites nacionais, a Forbes, mancheteou o protesto contra Bolsonaro.

Já a imprensa nacional calou ou secundarizou as marchas em suas páginas. Mesmo o Diário resvalou ao seguir a tendência dos jornalões. Exibiu como principal imagem da capa nesta segunda-feira, um pet. Muito terno. A chamada para a matéria sobre protesto ocupa um terceiro lugar, num ponto decrescente de importância ótica e sem qualquer imagem.

Ou seja, são escolhas editoriais que deixam de tratar a informação de modo a contextualizar qualitativamente nossos cenários. Não se trata de concordar ou discordar de uma ideia, mas ter a responsabilidade pública de não trair os fatos. Possivelmente, daqui a alguns anos, a imprensa brasileira tornará a pedir desculpas pela omissão ou pelas mentiras construídas no período, como já aconteceu.

Aos jornalistas, resta, mais uma vez, a vergonha histórica e a tristeza, ainda que concordemos com Eliane Brum, ao afirmar que cabe a essa tão famigerada profissão "iluminar os cantos escuros dos acontecimentos e, principalmente, acrescentar novos questionamentos ao cotidiano dos leitores".

*Este artigo foi originalmente publicado na página 28 da edição de 2 de junho de 2021.

Arroubos de um STF político
Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário

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Aqueles que ainda conseguem enxergar práticas republicanas nas ações desmedidas de alguns ministros do STF ou são completamente cegos ou comungam de interesse político e vêm nas medidas abusivas o oportunismo de atingir adversários.

Não é de hoje que ministros do STF deixaram de se movimentar pelos estreitos trilhos constitucionais, se sobrepondo aos demais Poderes e agindo como semideuses, achando que tudo podem e a culpa disto, além do próprio ministro que abusa de seu poder é, especialmente, de um Senado acovardado, ao qual cabe fiscalizar, julgar e adotar medidas punitivas, mas que, no entanto, não fazem porque têm o rabo preso na própria Corte, já que cerca da metade dos senadores respondem a processos ou, no mínimo, investigações no STF.

Vamos lembrar que o STF considerou crime de racismo a homofobia, após um verdadeiro malabarismo interpretativo e jogo de retórica extrema, como se opção sexual fosse extensão do conceito de raça. Não estou dizendo ou defendendo que não se pode criminalizar a homofobia e não só se pode como se deve, mas em um Estado de Direito a criminalização de um comportamento somente pode ser admitido por expressa previsão de lei em sentido estrito, ou seja, aquela que emana do Parlamento na sua função precípua.

O comportamento dos ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Roberto Barroso, especialmente a partir da instauração do famigerado inquérito das fake news, já há tempo passou de qualquer limite do aceitável, pois colocam-se acima do bem e do mal e qualquer crítica mais contundente a ministro da Corte ou ao STF arrisca-se a ser preso, em verdadeira censura prévia à opinião.

A prisão do Deputado Federal Daniel Silveira e do jornalista Oswaldo Eustáquio se assemelha a medidas de estado de exceção. Se a constituição assegura a liberdade de opinião e de críticas a qualquer cidadão, a um parlamentar e a um jornalista, ela redobra a proteção e alcança imunidade aos parlamentares e inviolabilidade aos jornalistas. Inobstante todas as garantias constitucionais, Alexandre de Moraes simplesmente passou por cima e determinou suas prisões, se colocando em posição como se a constituição admitisse a crítica a todos, menos a ministro do STF. E a Câmara, também acovardada, se colocou de joelhos.

A prisão do Deputado Daniel Silveira, então, beira ao comportamento de "menino mimado", o qual em sua obra "Direito Constitucional", 11ª edição, página 316, defende a inviolabilidade dos parlamentares por quaisquer opiniões, o que não o impediu de decretar a prisão do deputado, em completa antinomia ao que escreve, ficando claro que uma coisa é Alexandre de Moraes e outra é o ministro.

A recente prisão do ex-deputado e atual presidente do PTB Roberto Jefferson é a continuidade de um comportamento absurdo de uma suprema corte que está fora de controle e o risco é que qualquer um que a critique acabe preso.

Em artigo do dia 04/08, eu já havia referido que só teria uma maneira de fazer aprovar o voto impresso auditável, que seria uma manifestação dos caminhoneiros e do agro de parar o País a ponto de causar desabastecimento. Pois esta manifestação vai acontecer a partir do dia 04/09 e além desta pauta também será exigido que o Presidente do Senado dê continuidade aos pedidos de impeachment de ministros do STF. Eu vou e você?

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